Construção destaca crescimento e a falta de confiança dos empresários do setor
Construção
Os desdobramentos das incertezas com os rumos da economia mundial e nacional foram debatidos na Reunião de Conjuntura do SindusCon-SP, conduzida por Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia da entidade, com a participação do presidente Yorki Estefan, em 30 de abril. Neste contexto, apesar de o setor da construção seguir mostrando crescimento da atividade, a confiança dos empresários segue em declínio.
Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), mostrou em sua apresentação os primeiros indicadores econômicos setoriais de 2025. Mesmo com a desaceleração da atividade no primeiro bimestre, a construção cresceu 4,8% no acumulado de 12 meses até fevereiro. No primeiro trimestre, o consumo de cimento cresceu 6%, na comparação com o mesmo período de 2024. Em 12 meses, indústria e comércio de materiais de construção acumulam aumentos, respectivamente, 4,9% e 6,7%. Segundo Ana Castelo, esse ritmo não deverá se sustentar, e haverá desaceleração.
As construtoras estão contratando mais do que demitindo no país, mas no primeiro bimestre o ritmo desacelerou, na comparação com os primeiros dois meses de 2024. O mesmo ocorreu no município de São Paulo. “O mercado de trabalho segue pressionado”, comentou.
Regional Campinas
Em relação à conjuntura econômica, o diretor da Regional Campinas do SindusCon-SP, Marcio Benvenutti, avaliou que o setor da construção ainda vive um momento de demanda crescente e também com escassez de mão de obra, principalmente para os serviços especializados. Para os próximos meses, afirmou que ainda há uma expectativa de início de novas obras em Campinas e na região metropolitana, porém atualmente a situação econômica mundial é outra.
“Um aspecto levantado nessa apresentação é muito importante. Quem compra um imóvel tem que ter uma expectativa positiva e também financiamento um pouco mais barato. Resumindo, temos ainda um quadro positivo, porém os indicadores dos próximos meses preocupam bastante o setor e por isso é preciso que os governos municipais, estaduais e federal estejam atentos a isso, porque a construção civil gera muito emprego e muita renda.
O sinal amarelo começa a aparecer. Então é melhor que se tomem medidas agora, do que esperar que o sinal fique vermelho”, acrescentou Benvenutti.
A incerteza em relação à economia afetou a confiança dos empresários da construção, que estão mais pessimistas em relação à situação atual e às perspectivas futuras, conforme mostrou a Sondagem da Construção do FGV Ibre. Os menos pessimistas seguem sendo os respondentes de obras de infraestrutura, e há uma expectativa de que os negócios melhorem nos próximos meses. A demanda insuficiente e a falta de mão de obra qualificada seguem sendo os maiores entraves aos negócios, prosseguiu Ana Castelo.
“Um terço das empresas respondentes operam no Minha Casa, Minha Vida. A burocracia foi apontada como a maior dificuldade enfrentada por essas construtoras, seguida do custo com a mão de obra. Neste segmento, os lançamentos têm crescido mais do que as vendas no primeiro trimestre.”
Ana Castelo comentou que os custos da construção têm acelerado no acumulado de 12 meses, com ênfase no custo da mão de obra. Na cidade de São Paulo, o acumulado está em 8,39%. Ela ainda mostrou que, de 1995 para cá, a produtividade na construção (incluindo o segmento informal) caiu 21,6%. Já no setor formal de construção, de 2007 a 2022, a produtividade caiu 2%. No mesmo período, houve crescimento de 9,9% no segmento de edificações e quedas de 7,3% no de infraestrutura, e de 5,3% no de serviços.
Conjuntura
Robson Gonçalves, professor da FGV, comentou que os produtos brasileiros ficaram relativamente mais baratos em função da guerra tarifária, por conta do imposto de importação norte-americano mínimo de 10%. Já a queda da demanda faz os preços recuarem, e há grande probabilidade de o Brasil aumentar a importação de produtos chineses.
Segundo o economista, ainda não há sinais claros de que a desaceleração do crescimento da economia nacional seja uma realidade, apesar da elevação da taxa de juros. Puxado pelo setor de serviços, o IBC-BR cresceu 4% no primeiro bimestre, acumulando 3,8% em 12 meses, contrariando as previsões dos economistas. “Ou a desaceleração virá abruptamente, o que é mais provável, ou a atividade econômica manterá um nível de resistência à elevação dos juros”, comentou.
Debates
Yorki Estefan manifestou preocupação em relação aos prestadores de serviços da construção, que sofrem com aumentos de custos e processos trabalhistas. Observou que há construtoras com dificuldades, em contraste com outras que estão operando bem. Recomendou que as empresas protejam o caixa ao máximo. Comentou que o governo não tem atuado para diminuir os gastos públicos, ao contrário. Gonçalves afirmou que sem um horizonte de crescimento sustentável, a política econômica seguirá aos solavancos, misturando assistencialismo com investimentos que estimulam a atividade econômica.
Zaidan comentou que a Noruega usou os recursos do petróleo para criar um Fundo Soberano e financiar a infraestrutura. Afirmou temer que, ao se criar um fundo desse tipo, muitos agentes de fora da construção iriam querer se beneficiar desses recursos. No Brasil, comentou Gonçalves, se as contas públicas não estiverem melhor equacionadas, iniciativas deste tipo representariam um risco de agravar ainda mais o déficit.