Casa da Criança Paralítica amplia atendimento domiciliar em Campinas

Casa da Criança Paralítica

Projeto REDI – Reabilitação, Estimulação, Desenvolvimento e Inclusão – alcança agora moradores das regiões Sul, Leste, Norte e Noroeste da cidade, a maioria em situação de vulnerabilidade social

A equipe do Projeto REDI (Reabilitação, Estimulação, Desenvolvimento e Inclusão), executado pela Casa da Criança Paralítica (CCP), de Campinas, e financiado atualmente pela multinacional norte-americana Flex, atende em domicílio pessoas na faixa etária de zero a 70 anos de idade com deficiência física moradoras das regiões Sul, Leste, Norte e Noroeste do município, desde julho último. A meta é alcançar, até dezembro, um total de 40 atendidos, a maioria em situação de vulnerabilidade social.

 

Os profissionais responsáveis pela execução fazem uma busca domiciliar ativa por pessoas com deficiência física com ou sem nenhum tipo de assistência de saúde ou benefício social, para atendê-las, orientá-las sobre seus direitos e encaminhá-las aos serviços disponíveis em Campinas, de forma descentralizada da CCP. Com isso, buscam possibilitar a reabilitação e a inclusão delas, por meio de articulação da rede existente no município.

 

Entre os atendidos pelo projeto está Kelvin Luan do Amaral, de 28 anos, morador da região Sul que ficou tetraplégico no dia 17 de abril de 2016, após um acidente praticando parkour – atividade física na qual o participante se desloca de um ponto para outro, transpondo obstáculos como muros, escadas, rampas e grades, utilizando o próprio corpo. A equipe do REDI, composta atualmente pela assistente social Marcia Maria de Oliveira e pela terapeuta ocupacional Thais Vieira Silva Lima, conseguiu para ele uma cadeira motorizada, pois a que Kelvin utilizava era muito precária para sua locomoção, além de um adaptador para que possa acessar o computador. “Quando o pessoal do REDI me conheceu, me deram toda atenção e carinho, realmente empenhados em me ajudar. Essa ajuda me deu independência, liberdade, ânimo de acordar e ir para a cadeira de rodas. Fico feliz em ter essa liberdade, sem precisar de alguém para me empurrar. O trabalho deles é lindo e muito importante, sou muito grato, de coração”, diz Kelvin.

 

Ele recorda o grave acidente na Praça da Concórdia, distrito do Campo Grande, em Campinas, e a dificuldade de obter apoio para a própria saúde, desde então. “Eu estava virando um salto mortal, cai de cabeça, trinquei o pescoço e a medula saiu do lugar. Depois do acidente, fui acompanhado pelo SAD (Serviço de Atendimento Domiciliar) da PUC por mais ou menos um ano, pois eu morava no Jardim Bassoli. Quando mudei para o bairro Padre Anchieta, a equipe do SAD daquela região não me atendeu, então, nessa época, não tive como fazer reabilitação. No pós-pandemia, fui morar no Jardim do Lago, solicitei reabilitação pelo SUS, mas, infelizmente, não houve retorno. Faz nove anos que sofri o acidente, tenho escaras crônicas e, infelizmente, não tenho atenção para isso, pois na região sul de Campinas, onde moro hoje, sou atendido pelo Centro de Saúde do Parque Oziel, e eles raramente vêm à minha casa. Faz quase três meses que não recebo visita domiciliar. Era para ser, no mínimo, todo mês. Essas escaras precisam de atenção regularmente, mas sempre falta algum item na farmácia das coisas que a gente precisa para fazer o curativo. Também tenho infecção de urina direito. Até o exame ficar pronto, já peguei outra. Hoje, o SUS não tem estrutura para lidar com PCD. Se você chegar agora no pronto-socorro com a perna quebrada, sai de lá operado, com gesso, grade o que for. Mas, depois, esquecem de você. É sempre uma humilhação, nunca tem agenda, nunca tem médico. Infelizmente, é isso.”

 

Além de ofertar vários dispositivos aos usuários para melhorar sua qualidade de vida e de seus familiares, como cadeiras de banho, camas hospitalares, colchões, órteses, próteses, e realizar adaptações aos domicílios, a equipe do REDI encaminha as pessoas com deficiência aos serviços de saúde e apresenta-as aos serviços de garantia de direitos, como conselho tutelar, Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPE), Defensoria Pública da União (DPU) e cartórios civis. “O projeto garante, por exemplo, o acesso a documentos civis, como certidões de nascimento, casamento, RG e articula agendamentos dos usuários para fazerem o Cadastro Único, que é a porta de entrada de programas sociais do governo municipal, estadual e federal”, enumera a assistente social Marcia Maria de Oliveira.

 

Os casos mais complexos em adultos e idosos são os mais desafiadores para a equipe do REDI. “Essas pessoas ficam isoladas em casa, com várias deformidades, à margem da sociedade e trazendo sobrecarga para os cuidadores, que também adoecem por falta de cuidados. Sem fisioterapia domiciliar, o quadro da pessoa com deficiência física piora consideravelmente e alguns vivem praticamente em estado vegetativo”, diz a terapeuta ocupacional Thais Vieira Silva Lima. A equipe do projeto aponta que é preciso um atendimento mais humanizado e qualitativo para os usuários dos serviços de saúde e seus familiares, em especial os cuidadores.

 

Para orientar essa população, a equipe desenvolveu cartilhas como a que traz os cuidados necessários com acamados ou com mobilidade reduzida, evitando lesões por pressão, melhorando posicionamento e conforto no leito; e sobre Serviços de Garantias de Direitos, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC), garantido pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) a pessoas portadoras de deficiência com qualquer idade, com impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial de longo prazo e Idoso.

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