Boldrini promove arte em homenagem às mães
Boldrini destaca a força da mulher que diariamente renasce e enfrenta com o filho ou filha a jornada de superação
Uma escultura em bronze da cabeça de uma mulher exposta sobre um suporte de mármore e um poema junto à peça que fica na recepção do Centro Infantil Boldrini traduzem a força, a perseverança e resiliência da mãe que aprende a renascer todos os dias durante a jornada do tratamento de seu filho ou filha no Boldrini. Contar a história dessa arte é uma forma de marcar o Dia das Mães, comemorado no próximo dia 11.
A artista Sonia Novaes de Rezende também fará exposição com várias outras obras, de 8 de maio a 13 de junho, no Tribunal Regional do Trabalho, com renda da venda das peças revertidas para o Centro Infantil Boldrini.
A obra de arte é resultado do talento de Sonia Novaes de Rezende, psicanalista, docente aposentada do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, que se autointitula artesã nas horas vagas. Foi das mãos dessa artista que saiu a peça com uma expressão inigualável, moldada em homenagem às mães. E o poema, inspirado pela escultura, foi escrito pela presidente do Boldrini, Dra. Silvia Brandalise.
“A minha área é a psicanálise, mas eu sempre gostei muito de arte, porque a arte diz algo que as palavras não conseguem dizer. Há certas experiências na vida que por mais habilidade, mais dom poético, você não consegue expressar plenamente como narrativa. A arte é aberta a múltiplas leituras, e cada um vai fazer a sua ao contemplar a escultura”, diz Sonia.
A obra, denominada Mãe, foi a primeira escultura feita em bronze por Sonia, em 1982, quando a artista começou a esculpir. Até então, ela se dedicava somente à pintura, e muitos de seus quadros também já foram expostos e vendidos com a renda revertida para o Boldrini.
Mas a história de Sonia com o Boldrini começa antes de tudo isso. Da convivência com as mães, veio a motivação para esculpir a mulher de traços marcantes. “Ela é uma mulher que não é nem moça nem velha, nem rica nem pobre, nem bonita nem feia. Ela tem algo de universal, e, se você olhá-la de costas, o músculo do pescoço fica muito evidente, como se ela carregasse o peso do mundo. “Quando vi a obra pronta, fiquei muito comovida, porque alguma força dentro de mim modelou aquela figura tão representativa; o que ela passa vai para além da matéria”, descreve a autora da obra.
Sonia conta que começou a fazer a escultura em terracota, porque o barro, a cerâmica, têm uma beleza diferente. No entanto, ao esculpir, percebeu que a terracota era frágil demais para representar aquelas mulheres que diariamente venciam uma batalha, e decidiu transformar a obra em bronze, material perene. “Eu queria uma mãe forte, que tivesse algo de eternidade, e o bronze tem isso”.
A artista descreve que passar da terracota ao bronze foi um trabalho intenso, tanto externa quanto internamente, uma verdadeira transmutação. “As ações de moldar, passá-la pelas provas do fogo, permanecendo vários dias na fundição, num forno de carvão, até chegar na consistência necessária. Depois, aparar as arestas, poli-la e dar novo colorido à peça. Esse trabalho foi uma espécie de metalinguagem do que é ser mãe de uma criança que está em tratamento no Boldrini”.
“Aproveitar essa experiência de dor para crescer, para se desenvolver para polir as arestas, para ganhar um outro colorido, para ganhar um outro lugar no mundo, para ressignificar sua vida e a de seu filho ou filha. São metáforas das etapas de transmutação, do barro ao bronze, do que é frágil ao que é forte. Quando terminei, levei a escultura para a Silvia (Dra Silvia Brandalise). Ela, emocionada, entendeu na hora e fez o poema que está junto à escultura”, contou a escultora.
No texto, a médica assume a voz de um filho e reforça que uma mãe, tal qual a escultura, não precisa de palavras para expressar seu amor, sua força e dedicação. Bastam a presença e o olhar para dar alegria e energia, base para a superação.
“Quando você consegue dizer algo para alguém em uma pintura, uma música, em um poema ou escultura, com a energia e sentimento que você colocou na obra, você se comunica com quem a contempla, mesmo quando você não estiver mais neste mundo”, afirma Sonia, que além de artesã, é mãe e avó.
Com talento de sobra, a artesã criou várias outras obras de arte que estarão expostas e à venda a partir de maio a 13 de junho, na Exposição “Continentes Iluminados: Arte Digital e outras Artes, no Espaço Cultural Desembargador Eurico Cruz Neto, localizado no edifício-sede do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, na Rua Barão de Jaguara, 901, 1º andar, no Centro de Campinas, de segunda a sexta-feira, das 12h às 18h. Parte da renda da comercialização das obras será destinada ao Boldrini.