Balança comercial paulista do 1º semestre aponta dano potencial do tarifaço dos EUA
Ainda sem influência da tarifaço imposto pelos EUA, o déficit da balança comercial paulista foi de US$ 5,87 bilhões. Como praticamente todo o Estado de São Paulo exporta para o mercado norte-americano, saldo negativo pode agravar-se
O levantamento do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com base em dados das diretorias regionais do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) mostra que dentre 39 regiões paulistas analisadas, 33 delas tiveram os Estados Unidos incluídos entre os três principais destinos de suas exportações no primeiro semestre de 2025. Em 13 regiões, o mercado norte-americano foi o maior comprador. Quanto às importações, o país aparece entre os três fornecedores mais destacados em 32.
“Os números dimensionam a gravidade do impacto que poderá ter a tarifa adicional de 50% anunciada pelo presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto”, alerta Rafael Cervone, presidente do Ciesp e primeiro vice da Fiesp. Considerando que praticamente todo o Estado de São Paulo exporta para o mercado norte-americano, o tarifaço ameaça agravar o déficit da balança comercial paulista, que foi de US$ 5,87 bilhões no primeiro semestre, ainda sem a influência do aumento tarifário.
As exportações totais do Estado de São Paulo totalizaram US$ 36,48 bilhões, uma queda de 1,1% frente ao mesmo período de 2024, enquanto as importações cresceram 17,2%, alcançando US$ 42,35 bilhões. Um ano antes, o saldo era positivo em US$ 741 milhões.
Para Rafael Cervone, “a medida anunciada por Trump ultrapassa os limites da diplomacia ao utilizar a questão tarifária como instrumento de disputa pessoal e ideológica”. Ele acrescenta que “tal postura causará prejuízos concretos e imediatos às relações comerciais, afetando diretamente as forças produtivas, os trabalhadores e toda a sociedade”. É importante, segundo o empresário, que o Brasil, por sua vez, também busque foco apenas no aspecto econômico da medida e deixe a questão política de lado.
O presidente do Ciesp, ao manifestar a expectativa de que se possa chegar a uma solução negociada, pois o momento é de ponderações e diálogo, refuta a justificativa de Trump de que a balança comercial bilateral é desfavorável aos Estados Unidos: “Na última década, o superávit norte-americano no comércio de bens com o Brasil somou US$ 91,6 bilhões. Ao se incluírem os serviços, são US$ 256,9 bilhões”. Cervone é enfático em afirmar: “questões pessoais e ideológicas de governantes não podem prevalecer nas relações internacionais, sob pena de causarem danos severos e de difícil reparação, colocando em risco o desenvolvimento e o bem-estar da população”.
Destinos, origens e produtos
As 13 regiões cujo principal comprador foi o mercado norte-americano no primeiro semestre de 2025 são as de Araraquara, Bragança Paulista, Campinas , Guarulhos, Limeira, Mogi das Cruzes, Piracicaba, Ribeirão Preto, Rio Claro, Santa Bárbara D’Oeste, Santo André, São Carlos e São José dos Campos.
As seis regiões nas quais os Estados Unidos não se incluíram entre os três maiores destinos das exportações são as do Vale do Ribeira, Sertãozinho, São Caetano do Sul, São Bernardo do Campo, Marília e Jacareí. As sete que não tiveram o país listado entre as principais origens das suas importações são as de Araçatuba, Bauru, Bragança Paulista, Franca, Limeira, Santa Bárbara D’Oeste e São Bernardo do Campo.
No levantamento, observa-se que as exportações paulistas mais relevantes para os Estados Unidos concentraram-se em máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos, combustíveis minerais, açúcares e produtos de confeitaria, sementes e frutos oleaginosos, automóveis e tratores, além de itens como aeronaves e aparelhos espaciais e borracha.
As importações provenientes dos norte-americanos tiveram como destaques máquinas e equipamentos mecânicos, produtos farmacêuticos, instrumentos e aparelhos de óptica, plásticos, peixes, crustáceos e produtos químicos orgânicos. Nota-se forte presença de bens de capital e insumos importantes para a indústria.