Artigo: SAF, futebol brasileiro e o Mundial de Clubes da FIFA

José Guilherme Nicola*

O novo modelo do Mundial de Clubes da FIFA, que recentemente chegou ao fim, conquistou o torcedor brasileiro e chamou a atenção do mundo. Com um formato ampliado, premiações bilionárias e a proposta de transformar o futebol de clubes em um espetáculo global, a competição escancarou um fato: o futebol brasileiro, representado por clubes como Flamengo, Fluminense, Botafogo e Palmeiras, não apenas está vivo — está surpreendendo os amantes do esporte.

Mesmo diante de elencos com orçamentos muito superiores — como os do Chelsea, Real Madrid, Inter de Milão e PSG (que foi o campeão da Champions League) — os clubes brasileiros mostraram um futebol competitivo, vibrante e com muita garra. As atuações dos times brasileiros não deixaram dúvidas: jogaram de igual para igual. O que se viu foi o Brasil resgatando sua identidade futebolística diante de adversários que, no papel, pareciam imbatíveis.

Mas o Mundial de Clubes também trouxe à tona um abismo fora das quatro linhas: a diferença estrutural e gerencial entre os clubes da América do Sul e da Europa. A maioria dos times europeus participantes do torneio atua sob modelos empresariais consolidados — sociedades anônimas de capital aberto ou fechado — com foco em governança, compliance e sustentabilidade financeira. A profissionalização, nesses casos, era regra, não exceção.

No Brasil, esse processo ainda é recente. Com a promulgação da Lei nº 14.193/2021, foi criada a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), permitindo que clubes transformem suas operações em estruturas empresariais, atraiam investimentos e reorganizem seus passivos. A experiência do Botafogo é um exemplo emblemático de como a SAF pode ser uma alternativa viável para clubes endividados, desde que acompanhada de uma gestão qualificada e comprometida.

Por outro lado, é equivocado tratar a SAF como única solução para o futebol nacional. O próprio Palmeiras mostra que a excelência de gestão pode ser alcançada fora do modelo societário, desde que haja planejamento, estabilidade e profissionalismo. O mesmo se observa em clubes como o Flamengo e Fluminense. A lição que fica é clara: não se trata apenas da forma jurídica, mas da cultura de gestão que se implanta.

A FIFA, ao estruturar o novo Mundial, sinaliza que o futebol do futuro exige mais que paixão: exige responsabilidade. E se o Brasil quer não só competir, mas liderar nesse novo cenário, precisa tratar o futebol também como um negócio sério. O desempenho técnico já provamos ter — agora é hora de evoluir fora de campo.

O Mundial de Clubes foi uma vitrine, e o mundo olhou para o Brasil com admiração. Os times brasileiros mostraram que não estávamos atrás; estávamos lado a lado. Mas para garantir que essa competitividade se mantenha ao longo dos anos, é essencial que os clubes adotem práticas de governança, invistam em capacitação de seus dirigentes e compreendam que, no futebol globalizado, a gestão é tão decisiva quanto o talento no campo.

O Brasil ainda é o país do futebol.

 

 

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José Guilherme Nicola/Divulgação

 

José Guilherme Nicola é advogado e atua no Quagliato Advogados*

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