Artigo: A Iniciação Científica como pilar na formação de crianças e adolescentes

Iniciação Científica

 

*Stella Washington

O processo de formação educacional de crianças e adolescentes tem se beneficiado da inserção de práticas de iniciação científica. O foco dessas atividades reside no desenvolvimento de habilidades de pesquisa e análise crítica, elementos considerados estruturais para o crescimento acadêmico e pessoal, pavimentando o caminho para estudos futuros e para a universidade.

Um dos principais ganhos apontados no ensino da iniciação científica é o aprendizado da pesquisa. Em um cenário dominado pelo acesso instantâneo à internet, onde a pesquisa digital é a norma, a capacidade de distinguir fato de opinião e de identificar fontes de informação confiáveis é uma competência crucial. A abordagem metodológica inerente à ciência oferece ferramentas para que os alunos compreendam o processo de investigação. Este rigor é essencial para evitar a adesão a “achismos” e conceitos equivocados, ensinando o aluno a saber quais as ferramentas certas utilizar na busca por conhecimento.

Inicialmente voltada para o público da graduação, adaptamos o conteúdo da iniciação cientifica para os alunos do Colégio Adventista de Barão Geraldo, do primeiro ao quinto ano – crianças de 6 até 11 anos.

Ademais, a iniciação científica atua na preparação para a vida ao envolver a aceitação do erro como parte do crescimento. Experimentos e atividades em grupo demonstram que nem todas as tentativas resultam em sucesso imediato. A análise das variáveis envolvidas — por exemplo, a identificação das causas para um resultado não esperado em um projeto de foguete, como pouca água, pouca pressão ou o tamanho inadequado da garrafa — e o registro em relatórios convertem o insucesso em uma etapa do aprendizado e da identificação de falhas. Nem sempre as experimentações darão certo e o processo analítico foca em entender o porquê dessa ocorrência.

 

 

Desenvolvimento Cognitivo, Aprofundamento e Comportamento

 

A introdução de conceitos científicos avançados em idades precoces demonstra o potencial de adaptação e aprofundamento do aprendizado. Alunos do ensino fundamental, por exemplo, têm contato com noções de energia potencial e cinética ou o funcionamento de foguetes e reações químicas (utilizando materiais simples como vinagre e bicarbonato), temas tipicamente abordados em séries mais avançadas, como o oitavo ano. Essa antecipação, adaptada à linguagem e ao entendimento das crianças, cria uma base conceitual sólida. O entendimento é outro quando o aluno chega aos 14, 15 ou 16 anos, com esses conceitos já internalizados, permitindo uma progressão mais acelerada.

Observa-se também uma potencial mudança no comportamento dos alunos em sala de aula. O envolvimento com a pesquisa e a busca por soluções para problemas concretos pode gerar um corpo discente menos propenso a aceitar respostas superficiais. Isso implica uma nova dinâmica pedagógica, onde o professor “precisa entrar preparado para a aula”, pois os alunos “não aceitam mais qualquer resposta”, demonstrando maior envolvimento com o assunto.

Outros benefícios práticos são notados no desenvolvimento de um senso de responsabilidade e engajamento. Um exemplo prático foi a mudança no descarte de lixo em um ambiente escolar: após a remoção de um grande depósito central no pátio, as crianças, educadas para o descarte seletivo, passaram a organizar o lixo corretamente de forma imediata e autônoma. Essa mudança de hábito é atribuída ao envolvimento dos alunos em projetos que demandam reflexão e ação, evidenciando o poder de transformação do aprendizado científico na rotina.

A iniciação científica também se apresenta como um agente de inclusão e desmistificação de estereótipos. Observações em atividades de construção de carrinhos, por exemplo, indicam alto engajamento e resultados satisfatórios entre as alunas, cujos trabalhos se mostram, em alguns casos, “bem mais dedicados”. Esse dado sugere que o estímulo e o contexto adequados podem fomentar o interesse feminino pelas áreas científicas e tecnológicas, desafiando concepções históricas que associavam certas áreas de estudo majoritariamente aos meninos. O incentivo, como a menção a mulheres cientistas da NASA, reforça essa nova realidade.

O contato inicial com o laboratório e a definição de ciências como o estudo de “tudo” – desde acender uma luz até o preparo de um bolo em casa – transforma a percepção dos estudantes, que passam a enxergar a ciência como a própria vida. Essa abordagem aguça a curiosidade e prepara os estudantes para um futuro de maior complexidade conceitual e técnica, dando-lhes a base para desenvolverem soluções e aprofundarem seus estudos.

 

Stella Washington Foto RonconGraca.Com
Stella Washington/Foto: Roncon&Graça.Com

Stella Washington é pedagoga e psicopedagoga, mestre em Educação e diretora do Colégio Adventista de Barão Geraldo – Campinas.

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