Anelo Campinas anuncia novo single e viagem de seus músicos à Itália
Em comemoração aos dez anos de parceria com o festival italiano Arcevia Jazz Feast, o Anelo, de Campinas, junto de Susanna Stivali, uma das artistas mais celebradas do jazz italiano, e fã declarada da música brasileira, lança no dia 24 de julho, quinta-feira, o single ‘Mais nada’, uma composição inédita do músico Luccas Soares, tanto nas plataformas digitais do Anelo quanto da cantora.
O marco de uma década de parceria também será celebrado com o envio de cinco músicos da organização, entre professores e alunos, para representar o instituto na Itália, durante o evento, que será promovido de 27 de julho a 2 de agosto.
A participação de Stivali na produção da música ‘Mais Nada’ foi gravada durante turnê da artista pelo Brasil em junho deste ano. A interpretação da obra, em italiano, simboliza também a coroação de um laço afetivo criado entre Susanna e o instituto campineiro.
Em 2015, durante a primeira participação do Anelo no festival italiano, Luccas Soares conheceu Susanna Stivali, que desde então tem acompanhado de perto a atividade da organização, fazendo visitas regulares à entidade e ministrando masterclasses durante o festival de música que acontece na sede do Anelo, no Jardim Florence, distrito de Campo Grande, periferia de Campinas.
Com carreira consolidada dentro e fora da Itália, a cantora, compositora e arte educadora já se apresentou por diferentes países da Europa, além de Estados Unidos, África do Sul, Moçambique, Tailândia e Indonésia. Em relação ao Brasil, porém, a ligação é mais que especial. No país, já gravou um álbum dedicado ao repertório de Chico Buarque (Caro Chico, 2015, Biscoito Fino, com a participação do próprio Chico) e com o grupo Trio Corrente.
“Os músicos de jazz gostam muito da bossa nova. Meu primeiro contato com as obras do Brasil foi com versões de cantoras de jazz como, por exemplo, Ella Fitzgerald, que fez um maravilhoso álbum cantando composições de Tom Jobim em inglês. Assim como a primeira vez que eu ouvi algo de Djavan foi em um projeto de Sarah Vaughan, cantando Djavan”, conta. Com vontade de se aprofundar na cultura brasileira, Susanna passou a visitar o país há 15 anos, se motivou a ter aulas de percussão brasileira e passou a incorporar essa influência. “Nasceu aí um grande amor pela música brasileira. Descobri que não é só bossa nova, há um mundo de estilos. Todos os músicos do mundo deveriam estudar a música brasileira.”
O encontro com o Anelo, relembra, ocorreu na primeira participação do instituto no festival de Arcevia, em 2015. “Construímos essa colaboração pela qual convidamos professores e estudantes do Anelo, e também enviamos ao Brasil. O primeiro contato foi graças a Guilherme Ribeiro, pianista e regente da Orquestra Anelo, em Arcevia, num momento em que eu estava já apaixonada pela música brasileira. Comecei a vir ao Brasil mais frequentemente, e essa relação com o Anelo cresceu. Foi maravilhoso conhecer o instituto, ver as coisas que faz na comunidade onde está. Isso não ocorre na Itália, e é muito precioso.”
Ainda conforme a artista italiana, o que mais chamou a atenção dela no Anelo foi o amor dos alunos pela música e a vontade de aprender. “Vi uma curiosidade para saber coisas de outro país, que é muito importante. Você pode sentir que é uma comunidade, e que utiliza a música como uma linguagem de amor. Existem muitas escolas de música por aí, mas com essas características não. Ela tem outro sentido, promove a inclusão, e com uma qualidade incrível. Todas as vezes que volto percebo a qualidade do trabalho que o Anelo está fazendo, as produções do estúdio, o crescimento da escola, o nível dos músicos, sempre avançando”, avalia.
Sobre gravar a composição de Luccas Soares, ela conta que foi algo natural, pois já conversava com ele sobre fazer algum projeto conjunto. “Fiz alguns shows com o Anelo, até dei aula lá, mas essa é a primeira vez que eu vou gravar uma música do fundador do instituto. Gosto muito do que ele escreve. Quando o Luccas soube da minha vinda, me enviou a música e perguntou sobre a possibilidade de escrever uma versão em italiano. Gosto muito de colocar letras em italiano na música brasileira, acho que funciona, e assim fiz uma versão dessa canção maravilhosa.”
Segundo Luccas Soares, a ideia da composição ocorreu quando ele se preparava para viajar até a China (em uma parceria entre o Anelo e a unidade chinesa do conservatório Juilliard). “A ideia era representar a música brasileira, levar algo de Bossa Nova, por ser um dos estilos musicais brasileiros mais conhecido fora do país, mas ouvi também ritmos que tivessem a ver comigo, com minha textura vocal. Nisso, ouvi muito Emílio Santiago, especialmente um repertório em bolero, e tive a inspiração para compor. Como a música foi construída devido a uma viagem ao exterior, me veio à lembrança a Susanna como alguém para participar e fazer uma versão em italiano, um idioma que gosto muito.”
Luccas também chama a atenção para o arranjo, elaborado em parceria com os produtores musicais Deivyson Fernandez e Fernando Baeta, que atuam no Anelo. “É um arranjo coletivo, foi muito legal reunir esse time. E o baterista é o Pepa D’Elia, baterista do Toquinho, que gravou com a gente. Tem também o Bruno Piapara (produtor e multi-instrumentista), que foi aluno do Anelo e hoje é um músico que grava com artistas como Sandy e Família Lima. E o Gê Ribeiro, um trompetista de primeira. Só feras.”
Em solo italiano
Para Arcevia, no décimo ano da parceria do Anelo com o festival italiano, embarcarão na semana do dia 20 os representantes do instituto Thiago Caíres, Tamires Gaspar, Nicoly Alessandra, Fátima Lopes e Rodrigo Mazetto.
“A parceria com a Arcevia Jazz Feast é mais que especial, porque foi a primeira viagem internacional do Anelo. No meu caso, foi o primeiro voo da minha vida. Fui antes desta viagem pedir a bênção da minha mãe e contar a novidade, e ela disse que avião era muito perigoso, sugeriu que eu fosse de ônibus, tamanha era a simplicidade, pois isto nunca havia sido uma possibilidade na realidade em que fomos criados”, rememora Luccas.
O fundador do Anelo aponta também que, após dez anos de parceria, compreende que a experiência, tão fora de suas expectativas na realidade da comunidade periférica em que foi criado, abriu as portas para outras pessoas. “Fazemos este esforço mesmo com poucos recursos e sem termos um patrocínio direto para este projeto Anelo Internacional, porque entendemos como é importante ampliar os horizontes de quem vai para a Itália, e também de quem fica. A viagem proporciona uma experiência incrível para os alunos e professores que vão, mas também inspira e renova a autoestima da comunidade.”
De acordo com Luccas, o compromisso e a solidez da parceria é tanta que, desde 2019, o Instituto Anelo passou a receber também alunos italianos que participaram do festival em Arcevia. “Fui criado no Jardim Florence e jamais poderia imaginar que teríamos um intercâmbio como este, italianos querendo vir para cá, através do Anelo, mas a música fez isto acontecer”, afirma.
Uma das representantes do Anelo que vai embarcar para a Itália rumo ao festival é a jovem Nicoly Alessandra, moradora do Jardim Bassoli, no distrito do Campo Grande, que vê na ocasião uma oportunidade de agregar muitos conhecimentos e ampliar seu olhar sobre a cultura e a música. “Vai agregar muito, não só pela experiência de conhecer um país novo, uma outra cultura. A minha expectativa está muito alta e penso que vamos ter muitas trocas interessantes”, apontou.
Nicoly baseia sua expectativa nas recepções que o Anelo já realizou, recebendo alunos italianos no Festival Transforma, do instituto. “Foi muito interessante ver como eles estavam receptivos para entender e fazer música brasileira com a gente, ao que pude observar eles aproveitaram bastante a experiência e eu penso que também vou aprender muito. Vamos trabalhar um repertório que vai além da bossa nova, com baião chorinho e penso que vai ser muito bom”.
Nicoly aponta que sente muita gratidão pela oportunidade e vê na viagem uma maneira de além de inspirar outros jovens da periferia a sonhar e se preparar para quando as oportunidades aparecem. “Só de ter um espaço como um Anelo é de uma grande importância na comunidade. Proporcionar intercâmbio é uma coisa que, para mim como uma menina da periferia, para quem as vezes é difícil a gente entrar numa faculdade, é um ponto fora da curva, uma super oportunidade. É grandioso, me dá esperança e também acende essa luz de possibilidade em pessoas como eu”, considera Nicoly.